quinta-feira, 28 de maio de 2009

Solstícios, bromélias e acenos



“Dura rosa de madeira que sou mas para me purificar há
o pungente miosótis chamado urgentement
e mas delicadamente de não-te-esqueças-de-mim.”
Clarice Lispector


Nos meus olhos não há súplicas. Não existem motivos para esperas.
Palavras tontas e aleatórias percorrem os caminhos disformes e abismos intransponíveis que separam nossos corpos e, como por mistério dos deuses que sequer venero, vedam nossa essência sedenta de dramas tenazes, espaços vãos, cânticos nefandos e recomeços.
Nenhum tempo foi perdido. Nenhuma dor é inválida.
Entre a penumbra do meu silêncio covarde e o reflexo das armaduras de vidro cortante que envolvem suas frases bem colocadas, há uma matéria imutável: nós. Matéria fluída e ferina, imensa, inominável. Ousar defini-la seria negar sua transitoriedade, blasfemar e sacrilejar o que há de mais puro em mim.
Eu permaneço à beira-mar, numa calmaria vespertina, de braços estendidos e firmes na certeza dos abraços, serenos e sem fim, reservados num porvir cada vez mais breve.
Sabendo que os erros do presente são o limiar de um futuro verde-broto sem fim, não me apodero de metáforas, quero palavras e sensações literais.
Possuir é perder-se do outro, desejar é tê-lo eternamente em mim, para mim.


4 comentários:

  1. Achei!
    Poética e enigmática como sempre!
    É vc e Clarice!
    :P

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  2. olá.


    muito bom, gosto dos teus textos.


    sorte e luz, sempre.

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  3. :P
    me desculpaaaaaaaaaaaaa
    pleaaaaaaase!!
    faço o que quiser para me perdoar!

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  4. Que bonito desfecho:

    "Possuir é perder-se do outro,
    desejar é tê-lo eternamente em mim,
    para mim."

    Refletirei a respeito.
    Sobretudo, sobre o primeiro trecho...

    Um beijo,
    doce de lira

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